O Governo angolano assegurou hoje que o segundo satélite do país, Angosat-2, em construção a 50% e que deve ser lançado em órbita em 2022, “é o primeiro satélite africano de última geração, alto débito e alta capacidade”. O primeiro satélite, o Angosat-1, um investimento do Estado angolano orçado em 320 milhões de dólares (290 milhões de euros), perdeu-se no espaço depois do seu lançamento em Dezembro de 2017.
“O Angosat-2, conforme foi dito pelo senhor ministro em Dezembro, está ao nível de cerca de 50%, mas o que não significa dizer que os próximos 50% sejam os mais fáceis ou mais difíceis, é porque estamos a falar em tecnologia de alto nível, estamos a falar de um satélite última geração”, afirmou hoje o secretário de Estado das Telecomunicações, Mário Oliveira.
Segundo o governante, que falava hoje em Luanda, “apenas os grandes ‘players’ do mercado internacional, os grandes construtores e provedores de serviços de Internet são os que neste momento têm os satélites em órbita com as características do satélite Angosat-2”.
Tendo em vista a entrada em órbita do Angosat-2, que substitui o primeiro que se perdeu no espaço em 2017, decorre um “árduo trabalho” no seio dos especialistas angolanos certificados.
“E hoje já sentimos que estamos em melhores condições de poder melhor acompanhar o projecto, ser um participante integral daquilo que é o projecto de construção do Angosat-2”, apontou.
O secretário de Estado, referindo-se ao Angosat-2, acrescentou: “Este satélite, em particular, com essas características que é um satélite que é conhecido de alto débito, de alta capacidade, é o primeiro satélite africano que se vai lançar”.
O responsável falava à margem de uma visita que representantes da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC), que participam num ‘workshop’ de capacitação em Ampliação de Satélites, em Luanda, efectuaram ao Centro de Controlo de Missão de Satélites angolano.
Mário Oliveira referiu igualmente que a formação dirigida aos membros da SADC para “aproveitamento das facilidades do uso de infra-estruturas de satélite” surge para Angola apresentar a sua experiência no domínio da tecnologia espacial.
“É uma forma também de divulgarmos os nossos projectos e tirarmos maior proveito possível daquilo que é o nosso programa espacial nacional e muito em particular o satélite Angosat-2”, realçou.
Crise? Onde? Em Angola não é, com certeza. João Lourenço já a exonerou e não tardará a mandar fazer o arresto do seus… bens. A comprová-lo está o facto de o Presidente já ter aprovado o contrato comercial de construção, lançamento e colocação em órbita do satélite de observação da terra, o Angosat-3, segundo um despacho presidencial publicado no Diário da República.
No despacho 62/19, datado de 8 de Maio, João Lourenço autoriza o Ministério das Telecomunicações e Tecnologias de Informação a assinar o contrato, bem como a tratar de “toda a documentação relacionada com o projecto em nome e em representação de Angola”.
No preâmbulo do despacho presidencial é escrito que o Angosat-3 surge no quadro da “Estratégia Espacial da República de Angola 2016-2025” e da “importância vital da utilização do espaço para fins pacíficos” para o desenvolvimento socioeconómico e o posicionamento estratégico de Angola.
“A utilização do espaço contribui de forma transversal para o desenvolvimento dos sectores produtivos e não produtivos que permite uma gestão eficiente dos recursos minerais, navegação marítima e aérea, bem como para um melhor planeamento territorial, controlo e defesa das zonas transfronteiriças”, argumenta-se no documento.
No despacho presidencial não é indicado qualquer montante para a celebração do contrato para o terceiro satélite, numa altura em que a Angola aguarda pela entrega, prevista para 2021, ou 2022 ou… do Angosat-2.
Em 11 de Fevereiro de 2019, o ministro das Telecomunicações e Tecnologias da Informação de Angola, José Carvalho da Rocha, afirmou que o Angosat-2, em construção em França, estaria operacional em 2021 e custaria 320 milhões de dólares (280 milhões de euros).
O novo satélite começou a ser construído em 24 de Abril do 2018 pela empresa francesa Airbus, construtora que acolheu cerca de seis dezenas de técnicos angolanos, enquadrados em equipas permanentes, para acompanhar o projecto.
Sobre o desaparecimento do Angosat-1, construído e lançado na Rússia, o ministro indicou então que as informações de que dispõe vão no sentido de que o satélite continuará em órbita, mas que terá deixado de transmitir sinal na altura em que fazia a rotação para alinhar os painéis solares em direcção ao sol.
O primeiro satélite angolano, um investimento de cerca de 270 milhões de euros, foi projectado para sair para órbita a partir de Baikonur, no Cazaquistão, numa operação coordenada pela Roscosmos, a agência espacial russa e foi lançado para o espaço em 26 de Dezembro de 2017.
Contudo, assim que entrou em órbita, houve uma pausa nos contactos com o satélite. Inicialmente, ainda se conseguiu recuperar as comunicações, que, pouco depois, seriam perdidas novamente até ao presente.
Na altura, o executivo formou perto de 50 especialistas para garantir a gestão das infra-estruturas inerentes, com o objectivo de reforçar os serviços de telecomunicações africanos.
“Para nós, [o desaparecimento do Angosat-1], é caso para esquecer. Agora estamos a olhar para o Angosat-2”, afirmou então José Carvalho da Rocha.
Ao que tudo indica (é isso, não é Presidente João Lourenço?), com os Angosat o nosso país deixará de ter 68% da população afectada pela pobreza, ou uma das mais altas taxas de mortalidade infantil no mundo.
Será também graças aos satélites que não mais se dirá que apenas um quarto da população tem acesso a serviços de saúde, que, na maior parte dos casos, são de fraca qualidade, ou que 12% dos hospitais, 11% dos centros de saúde e 85% dos postos de saúde existentes no país apresentam problemas ao nível das instalações, da falta de pessoal e de carência de medicamentos.
Do mesmo modo, com os Angosat não mais se afirmará que a taxa de analfabetos é bastante elevada, especialmente entre as mulheres, uma situação agravada pelo grande número de crianças e jovens que todos os anos ficam fora do sistema de ensino. Ou que 45% das crianças sofrerem de má nutrição crónica, sendo que uma em cada quatro (25%) morre antes de atingir os cinco anos.
Ao contrário do que pensavam os angolanos, não vai trazer comida, nem medicamentos, nem casas, nem escolas, nem empregos, nem respeito pelos direitos humanos. Importa, contudo, compreender que há prioridades bem mais relevantes. E o satélite é uma delas.
Recorde-se que foi no Conselho de Ministros de 25 de Junho de 2008 que foi aprovado o projecto de criação do satélite “Angosat”.
Em comunicado, o Conselho de Ministros referiu nesse dia que foram aprovadas as minutas do contrato a celebrar entre o Ministério dos Correios e Telecomunicações de Angola e o consórcio russo liderado pela empresa “Robonex-sport”, tendo em vista a construção, colocação em órbita e operação do satélite angolano.
Por mera curiosidade refira-se que no mesmo Conselho de Ministros foi feito um reajustamento nos salários da função pública, sendo que – segundo o Governo – a alteração estava em consonância com o Programa Geral do Governo que previa como medida de política salarial o reajustamento dos vencimentos dos funcionários públicos, tendo em vista a reposição do poder de compra dos salários devido à inflação esperada de 10 por cento.
“Este Satélite (Angosat-1) é o primeiro e marca a entrada de Angola numa nova era das telecomunicações, o que pressupõe a condução de um programa espacial que inclua, futuramente, o lançamento de satélites subsequentes,” referiu em 2012 o então coordenador do projecto, Aristides Safeca.
Pés pelas mãos ou vice-versa
As autoridades de Angola de hoje, copiando o que fariam as de ontem, asseguraram que o primeiro satélite angolano, lançado em Dezembro de 2017, estava sob controlo, ao contrário de notícias (“fake news”, na terminologia do Departamento de Informação e Propaganda do MPLA) indicando que a Rússia havia perdido o contacto com o aparelho. Ou seja, o Governo desmentia o que não foi dito e, involuntariamente, confirma o que foi dito.
Nenhuma notícia, como se pode verificar abundantemente (aqui no Folha 8 por exemplo), dizia que as autoridades russas perderam o controlo sobre o satélite. Quanto a perder o contacto, o que é – pensamos – diferente de perder o controlo, a própria Corporação Estatal de Actividades Espaciais Roscosmos, órgão governamental responsável pelo programa de ciência espacial e pesquisa geral aeroespacial da Rússia, confirma essa “dificuldade”, afirmando que “tudo indica que será um problema transitório”.
Em declarações no dia 27 de Dezembro de 2017 aos jornalistas no final do Conselho de Ministros, o secretário de Estado para as Tecnologias de Informação, Manuel Homem, rejeitou que existam problemas nos contactos com o satélite, cumprindo-se o que estava previsto.
Manuel Homem mostrou, claramente, que não sabia do que falava e, como habitual, não falava do que sabia. O que estava previsto era que o Angosat, depois de entrar em órbita, começasse a transmitir dados. E isso não aconteceu, o que levou os técnicos a falar de perda da telemetria.
Segundo notícias dessa altura, a Rússia perdeu o contacto com o primeiro satélite angolano de telecomunicações Angosat. “O contacto cessou temporariamente, perdemos a telemetria”, indicou fonte do cosmódromo à agência France Presse, dizendo esperar restabelecer o contacto com o satélite.
O secretário de Estado para as Tecnologias de Informação perdeu igualmente a “telemetria” do MPLA/Governo, esquecendo-se que não estava a, supostamente, desmentir a KCNA (Korean Central News Agency) mas sim a France Presse.
Ora, segundo o governante angolano, o que “aconteceu é que de facto o lançamento do satélite ocorreu. O satélite fez o seu percurso normal, está na órbita para o qual foi planificado” e “temos sob controlo o satélite”, disse Manuel Homem, citado pela agência noticiosa Angop, infelizmente ainda uma versão (apesar de tudo de melhor qualidade) da KCNA.
Manuel Homem remeteu para mais tarde mais informações oficiais sobre o estado do aparelho. Como? Estado do satélite? Então se está tudo normal e como previsto, o que haveria a dizer sobre o estado do Angosat?
Angola tornou-se assim no sétimo país africano, ao lado da Argélia, África do Sul, Egipto, Marrocos, Nigéria e Tunísia, com um satélite de (mas sem) comunicações em órbita.
Também o ministro das Telecomunicações e Tecnologias de Informação, José Carvalho da Rocha, disse que 40% da capacidade comercial do satélite já estava reservada e que o Estado angolano estima a recuperação do investimento em pelo menos dois anos.
Folha 8 com Lusa
Em que medida o satélite trará comida ,saúde e educação ao seio dos angolanos.Essa megalomania,presunção descabida também é corrupção,assim deve ser banida das cabeças dos que têm em mãos os destinos da nação angolana
A vantagem do Angosat é que se poderá fazer um levantamento das lixeiras existentes em Luanda. Pode implementar-se em consequência o “arresto” desse lixo, para evitar que, com umas chuvadas intensas, o dito lixo que empesta a capital do país seja arrastado pelas águas descontroladas e invada as baías de Luanda e do Mussulo. Os veraneantes bem instalados da vida e que gozam as delícias do Mussulo ficarão muito agradecidos e a manutenção dos seus iates ficará certamente muito mais barata.
Também poderá ser possível inventariar muito lixo de duas patas que empesta as instituições públicas e privadas do país e novos “arrestos” se sucedam. Em suma, são só vantagens…
Escreve bem, gosto dos artigos. Agora é necessário expandir estes temas para outros jornais e publicitalá-los. Porque muitos deixam de lê-los pelo simples facto de pensarem que o FOLHA 8 é um pasquim. O que não é verdade, estão uma oportunidade de reflexão correcta.